Bolsonaro questiona urnas e cita voto impresso a embaixadores Presidente da República se encontrou com cerca de 40 embaixadores de diferentes países nesta segunda ~ Hope Notícias

terça-feira, 19 de julho de 2022

Bolsonaro questiona urnas e cita voto impresso a embaixadores Presidente da República se encontrou com cerca de 40 embaixadores de diferentes países nesta segunda



Ministro Edson Fachin durante sessão extraordinária do STF
Ministro Edson Fachin, presidente do TSE Foto: STF/SCO/Carlos Moura

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rebateu as suspeitas que o presidente Jair Bolsonaro levantou sobre o sistema eleitoral brasileiro durante conversa com diplomatas nesta segunda-feira (18). O encontro ocorreu no Palácio do Alvorada e foi transmitido ao vivo pela TV Brasil.

 Sem mencionar o nome de Bolsonaro, o presidente do órgão, ministro Edson Fachin, condenou o que chama de grave “acusação de fraude e má-fé”. Ao classificar a apresentação do presidente da República como uma tentativa de “sequestrar a ação comunicativa e sequestrar a opinião pública e a estabilidade política”, o ministro ainda disse que “é preciso dar um basta à desinformação e ao populismo autoritário”.

Em seu discurso, o chefe do Executivo voltou a questionar a confiabilidade das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral brasileiro. Bolsonaro decidiu se encontrar com embaixadores depois que Fachin fez uma reunião com algumas representações e, segundo o presidente, ter atacado à Presidência da República de forma indireta.

– Não é o TSE que conta os votos, é uma empresa terceirizada. Acho que nem precisava continuar essa explanação aqui. Nós queremos, obviamente, estamos lutando para apresentar uma saída para isso tudo. Nós queremos confiança e transparência no sistema eleitoral brasileiro – ilustrou o chefe do Executivo, que defendeu o voto impresso e mencionou também uma invasão hacker ao sistema do TSE nas eleições de 2018.

Fachin, por sua vez, rebateu essas afirmações e disse ser grave “o envolvimento da política internacional e também das Forças Armadas” em acusações de fraude. O ministro disse que é mentira que o ataque cibernético de 2018 tenha colocado em risco a integridade das eleições, já que, segundo ele, o código-fonte passa por sucessivas verificações e testes.

O ministro também disse que é falso dizer que poderia haver alteração de votos, “até porque as urnas não entram em rede, o que impede interferência externa no processo de apuração”. Além disso, a Corte apontou que observadores internacionais conseguirão analisar a integridade do sistema, ao contrário do que afirmou Bolsonaro.

Leia, abaixo, a íntegra da resposta de Fachin a Bolsonaro:

Saúdo a todas e todos os presentes. Cumprimento a nobre classe da advocacia paranaense pelo lançamento de campanha de enfrentamento à desinformação, combate de imenso relevo na preservação da democracia. Trata-se de propiciar o acesso a informações corretas e, consequentemente, do alcance da verdade no debate sobre as eleições vindouras, que, como sabemos, tem sido achatado por narrativas nocivas que tensionam o espaço social, projetando uma teia de rumores descabidos que buscam, sem muito disfarce, diluir a República.

Vivemos um tempo intrincado, marcado pela naturalização do abuso da linguagem e pela falta de compromisso cívico, em que se deturpam, sistematicamente, fatos consolidados, semeando a antidemocracia, pretensamente justificada por um estado de coisas inventado, ancorado em pseudorrepresentações de elementos que afrontam, a toda evidência, a seriedade do sistema de justiça e a alta integridade dos pleitos nacionais.

Criam-se, nesse caminho, encenações interligadas, como está a assistir o País; são eventos órfãos de embasamento técnico e pobres em substância argumentativa, e que violam as bases históricas do contrato social da comunicação, assim como premissas manifestas da legalidade constitucional.

Essa é a manipulação: tentar sequestrar a ação comunicativa e, desse modo, a opinião pública e a estabilidade política expõem-se a riscos contínuos. Daí a relevância do lançamento da campanha para OAB Paraná.

Situa-se essa louvável iniciativa no arrostar da era da pós-verdade, na qual se atenua a reprovação social das mentiras e encetam-se cruzadas ficcionais que dificultam a paz, promovendo a intolerância e corroendo os consensos. Dentro dessa conjuntura, a harmonia social oscila com o recuo das virtudes.

Peço licença para dizer, sem meias palavras:

– A JE está preparada e conduzirá a Eleição de 2022 de forma limpa e transparentes. Como vem fazendo nos últimos 90 anos. E nos últimos 26 anos de forma eletrônica para votação.

– Há um inaceitável negacionismo eleitoral por parte de uma personalidade importante dentro de um país democrático, e é muito grave a acusação de fraude (má fé) a uma instituição, mais uma vez, sem apresentar provas.

– As entidades representativas como a OAB e a própria sociedade civil precisam fazer sua parte na garantia de que a democracia seja preservada. É importante a sociedade civil e o cidadão entenderem que esse tipo de desinformação, como a de hoje, pode continuar, uma vez que ao negacionismo não interessa as provas incontestes e os fatos. Portanto, precisamos nos unir e não aceitar sem questionarmos a razão de tanto ataque.

Sempre estivemos abertos ao diálogo, nenhum ataque pessoal ou à instituição foi “contra-atacado”, sempre houve a condução disciplinada e educadora com intuito de informar ao eleitorado a respeito do processo eleitoral e a função e capacidade do TSE e justiça eleitoral como um todo, sua segurança, transparência e eficácia.

Porém, neste momento, mais uma vez a Justiça Eleitoral e seus representantes máximos, são atacados com acusações de fraude, ou seja, uso de má fé.

Ainda mais grave, é o envolvimento da política internacional e também das Forças Armadas, cujo relevante papel constitucional a ninguém cabe negar como instituições nacionais, regulares e permanentes do Estado, e não de um governo.

É hora de dizer basta.

Em primeiro lugar, toca preservar o Estado de Direito, com a consciência de que apenas a lei pode salvaguardar as situações suscetíveis de colocarem em risco direitos fundamentais. Toca observar os sinais de alerta, conservar a independência dos poderes, abolir a violência antiplural, resgatar a primazia do comportamento tolerante no espaço cívico.

Em segundo lugar, cumpre agir contra a desinformação, aumentar a resiliência contra o engano, em ordem a preservar a liberdade – a verdadeira liberdade – e contra a tentação discursiva das mentiras simples. Cumpre reaver a normalidade das campanhas eleitorais, que, sob a perspectiva democrática, existem não como janelas para ataques sucessivos, mas como espaços para que os competidores ofereçam, em igualdade de condições, informações verdadeiras e propostas plausíveis para os dilemas coletivos.

Também assim, cabe preservar conquistas civilizatórias, mantendo-se o povo livre e consciente frente à dominação outrora imposta por supostos líderes que, em momentos infaustos, apagaram memórias e usaram da força para usurpar o poder, fazendo-se imunes ao julgamento coletivo, negando a natureza soberana da cidadania.

Em meio a um debate desvirtuado e a um clima comunicativo nitidamente adoecido, é preciso recusar a cólera, promover diálogos racionais e ponderados, focar nos verdadeiros problemas. O processo eletrônico de votação é seguro e transparente, as eleições brasileiras permitem, de fato, a circulação do poder em consonância com a autêntica vontade popular.

Nesta data agraciada, a OAB Paraná e o Tribunal Superior Eleitoral irmanam-se em uma missão deveras importantes para a cena brasileira. Iluminar os fatos. Garantir o acesso a informações adequadas. Promover a paz, a tolerância e a democracia, em prol do direito de escolha das brasileiras e dos brasileiros.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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