
A revista Veja trouxe uma notícia que pode macular toda a ação penal do suposto golpe de estado, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), teria mentido em seu mais recente depoimento, ao negar que não se comunicou acerca da investigação.
Ao ser interrogado nesta semana, Cid afirmou que não fez uso de redes sociais no período em que estava sob medidas restritivas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes.
Ele foi questionado pelo advogado de Jair Bolsonaro, Celso Vilardi, se teria feito uso de algum perfil no Instagram que não está no nome dele. O militar, tenso, negou.
Foi aí que Vilardi o perguntou se ele tinha conhecimento de um perfil chamado @gabriela702, ao que Cid respondeu:
– Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa.
A Veja exibe em sua reportagem prints de uma suposta troca de mensagens entre Mauro Cid, utilizando um perfil de nome “Gabriela R”, com um interlocutor próximo a Jair Bolsonaro. A matéria expõe um jogo duplo do militar, que relatava na conversa uma versão diferente da que ele apresentou em seu depoimento da Primeira Turma do STF.
Na condição de réu colaborador, o ex-ajudante de ordens assumiu com a Justiça o compromisso de falar a verdade. Ao descumprir, ele pode perder os benefícios e sua delação terá de ser anulada.
De acordo com a matéria da Veja, Vilardi tinha conhecimento que Cid havia violado ao menos duas determinações impostas por Moraes, que é relator da ação penal no STF.
Em suas confissões extrajudiciais, o perfil que seria utilizado por Cid contou que o delegado responsável pelo inquérito tentava manipular seus relatos, e que Alexandre de Moraes estava decidido pela condenação de alguns réus mesmo antes do julgamento.
Essas mensagens, expostas na reportagem da Veja, teriam ocorrido entre 29 de janeiro e 8 de março de 2024, período que corresponde a cinco meses antes do acordo de colaboração premiada ser homologado por Moraes.
Ainda de acordo com a revista, Mauro Cid revelou os extensos depoimentos a que foi submetido, relatando uma oitiva de “três dias seguidos”, além de seu desconforto quanto ao trabalho parcial dos investigadores.
– Toda hora queriam jogar para o lado do golpe… e eu falava para trocar porque não era aquilo que tinha dito – contou.
O tenente-coronel manifestou, segundo a revista, pessimismo diante da ávida inclinação pela condenação dos réus.
– Eu acho que já perdemos… Os Cel PM (coronéis da Polícia Militar do Distrito Federal) vão pegar 30 anos… E depois vem para a gente.
Diante do cenário adverso, nas mãos de quem estaria atuando para condená-los, Cid entendeu que somente o Congresso poderia intervir para sustar esses arbítrios.
– Só o Pacheco ou o Lira vai (sic) nos salvar. O STF está todo comprometido. A PGR vai denunciar – declarou.
O acordo de colaboração é construído sobre contrapartidas rígidas. Para gozar de tais benefícios, o delator não pode mentir, omitir, desviar a investigação, apresentar versões controversas, nem agir em prol da proteção de ninguém.
FONTE:PLENO NEWS